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07/07/2012

A Poesia com o adeus de até logo do seu mais querido autor


“Dá para contar nas mãos os meus amigo,
amigos que me abraçam e que eu abraço.
Às vezes erro as contas e as refaço
pela ausência de amigos mais antigos.

Não consigo contar os inimigos,
se inimigos reais eu nunca faço.
Não os vejo da vida em meu espaço,
nem pressinto no tempo os seus fustigos.


 
 E se nenhum amigo eu mais contasse
e a vida de ser só não me bastasse,
bastaria lembrar-me de Jesus.

Bastaria, somente, que O louvasse
para sentir presente, face a face,
o Amigo que por mim morreu na cruz”.

(Ronaldo Cunha Lima)

___________

Segue, adiante, linda mensagem do Jornalista Luís Tôrres:

Como jornalista, não cobri as eleições de Ronaldo Cunha Lima. Não escrevi uma linha sequer quando foi governador. Nem quando ele rompeu com Maranhão em 98 ou sofreu a primeira crise de AVC um ano depois.
Não acompanhei suas vitórias. Não registrei suas derrotas. Não comentei suas brigas. Não elogiei seus atos. Não critiquei seus erros.
De 2000 pra cá, apenas registro de seu estado de saúde, uma ou outra palavra sobre a campanha dos outros e nada mais.
Perdi muita coisa da vida do poeta pra, hoje, ter que escrever sobre sua morte.
Não choro como os outros que conviveram com Ronaldo há tempos. Eles perderam o poeta uma vez. Eu perdi duas.
Perdi o Ronaldo cheio de histórias, causos, afetos, palavras e gestos. Os que choram por terem o conhecido mais do que eu só o perderam hoje.
Por entrar depois no jogo da vida, eu deixei de conviver com o político do sorriso frouxo, do afago popular, do gosto simples, da genialidade linguística.
Quase tudo o que sei sobre o poeta vem dos outros.
E isso aflige mais do que qualquer morte. Aos que tiveram o privilégio de “viver Ronaldo Cunha Lima” durante todo esse tempo, minha mais profunda e positiva inveja.
Vocês lamentam porque sabem o que perderam. Eu porque não soube.
Pra fechar seu livro em vida, o poeta produziu atos que não fogem à regra da vida de emoções que viveu.
Do “coração forte”, segundo os médicos, que o segurou mais do que a Medicina explicava, aos pedidos insistentes pra ir a Campina Grande nos últimos dias, Ronaldo Cunha Lima parece ter morrido da mesma forma como vive: intensamente.
Tinha um sorriso guardado pra cada amigo que o visitou recentemente. E na dor o sorriso não é gentileza. É heroísmo. Já tentou sorrir sofrendo?
Como quem a repetir Pessoa, Ronaldo se colocou fingidor de uma dor que deveras sentia. Sabia que estava indo embora, mas não queria ser chato nem na despedida.
A vida não se mede por tempo. Mas pela qualidade.
A mim, particularmente, o poeta Ronaldo Cunha Lima, que viveu mais do que qualquer outro em vida, deixou uma riquíssima lição mesmo que por meio dos outros.
Se vamos morrer todos que seja apenas, e tão somente, depois da morte. Nunca antes.
Viva poeta!
P.S> E, em homenagem à admiração do poeta com o Augusto dos Anjos, vai um poema do autor do EU, chamado de VENCEDOR, que resume muito bem a vida de Ronaldo Cunha Lima:


VENCEDOR

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração - estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta


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