William Douglas
(Juiz Federal/RJ, professor e autor de 35 livros)
(Artigo publicado no Jornal O Globo, em 29/12/2012 -
p. 19)
Diretora suborna alunos para receber bonificação em
escola do Rio.
Como juiz federal, já demiti a bem do serviço público
vários maus servidores, mas não demitiria esta professora. Existem estudos
sobre premiar alunos com dinheiro onde, de um modo geral, se entendeu que a
ideia não é boa, mas ainda não há uma conclusão. Apenas dar dinheiro, um
simples “toma-lá-dá-cá”, é temerário, mas
não podemos ser levianos ao avaliar este caso.
A primeira coisa a notar é que o “suborno” foi para
os alunos fazerem algo lícito (uma prova). Segunda, ela estava querendo
aumentar a produtividade do estabelecimento que dirigia. Talvez de modo
equivocado, mas ao menos se esforçando. Terceira: quais os motivos de tanto
interesse em melhorar o desempenho da escola? O dinheiro que ela “investiu” era
para estimular os jovens a fazer provas do SAERJ, Sistema de Avaliação do
Estado, um dos critérios usados pelo governo para pagar bônus aos funcionários
que atingem metas. Será que o ERJ está subornando os professores? Por que o ERJ
pode estimular com dinheiro e a Diretora não?
Logo, sem entrar no mérito sobre se o modelo é
saudável ou não, sejamos honestos e coerentes: a diretora apenas aplicou a
mesma lógica à qual foi submetida. Mais: pelo que se viu nos vídeos, ela não
foi orientada sobre as vantagens do novo sistema. Aliás, antes disso tudo: que
tipo de treinamento gerencial ela teve para assumir a direção da escola? Alguém
a capacitou para funções diretivas ou deram a missão sem dar o treinamento e os
meios?
O preparo dos jovens para a vida deve ser feito com
muita cautela, mas não esqueçamos que no mercado, para onde se dirigem, os
prêmios financeiros estão na lista, embora raramente como único vetor.
Enquanto aperfeiçoamos os métodos, cabe mais
paciência e diálogo do que ira e punições açodadas. A Diretora agiu de modo
atravessado e mal executado, mas não deve ser tratada como vilã. Ela e os
jovens em questão são vítimas de um sistema complexo e ainda em aperfeiçoamento.
A Educação tem escândalos sim, mas outros: o quanto
se paga e treina um professor, o uso das verbas, a falta de atratibilidade da
carreira etc.
Premiar professores (e alunos) por resultados é
positivo, mas não é simples. O MEC acabou de punir várias Universidades com
base no resultado do ENADE. Tais instituições, por seu turno, ponderam que os
alunos não têm estímulo para fazer tal prova – só a fazem se quiserem
Neste quadro, as universidades públicas estão de mãos
atadas, enquanto algumas das particulares andam sorteando tablets e até carros
e viagens para quem faz a prova. Em suma, rico pode “subornar”, escola pública continua à
margem do mercado. Uma menina rica vende a virgindade por 750 mil dólares e na
Amazônia se compra a virgindade de indiazinhas por dez reais, o segundo fato
gerando menos debate que o primeiro. Enfim, somos uma sociedade hipócrita e
atrasada, na qual a Diretora que “entendeu” o sistema corre o risco de ser
punida por fazer algo que, certo ou errado, a sociedade tolera.
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