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“Querida
Mamãe, meu querido Papai, este é um grande momento de nossas recordações. Temos
o recinto repleto de amigos queridos. Flores. Alegrias. Não sei como agradecer.
A emoção se me concentra no peito e parece que o rapaz alegre da Vila aprendeu
a descobrir que a felicidade igualmente derrama lágrimas. As lágrimas
iluminadas de confiança em Deus e de gratidão aos entes amados. Antigamente as
luzes e o bolo somavam o júbilo doméstico. A família reunida. Os companheiros
presentes. A festa hoje é a mesma, entretanto, as formações são diversas.
Permitiu JESUS que as chamas inesquecíveis da mesa se transformassem nas páginas
de fé e paz, otimismo e esperança. A Divina Providência permitiu fossem
trazidas por minhas pobres mãos aos companheiros do mundo, refletindo as Luzes
do Mais Alto que não podem ser apagadas em tempo algum. Lembro-me de todos os
dias que se foram... E, em lhes manifestando todo o contentamento que me vai na
alma, peço desculpas por todas as preocupações de que fui motivo, durante a
minha permanência curta na Terra. Sei que protestarão, adivinho que a
generosidade dos dois me pincelará na memória e na palavra, à feição de um moço
perfeito, entretanto, observo hoje que as lentes do tempo me oferecem nova
visão da vida e das cousas, quantas dificuldades lhes impus. Creiam que os
exemplos de casa me ampararam em todos os momentos e hoje guardem a certeza de
que me volto para a verdade, buscando traduzir as lições que me oferecem no
trabalho a que me dedico. A morte não nos desuniu e nem nos impôs qualquer
separação, porque, pela praça da beneficência, estabelecemos a bendita comunhão
de almas em que estamos vivendo. Pelas palavras nem tanto continuaríamos
integrados uns nos outros, mas pela força do bem estamos sempre mais juntos.
Posso dizer-lhes que estou feliz. Esta é agora, Mãe querida, a minha felicidade
maior: acompanhá-la em suas peregrinações de bondade, em seus empreendimentos
socorristas, em seus planos de assistência aos necessitados e em seus passos no
rumo dos lares em sofrimento. E ninguém julgue que me revesti de titulações
religiosas ou que me haja feito anjo fajuto de um dia para outro. Apenas
caminho. Caminho e compreendo. Compreendo e aceito a minha própria renovação.
Isso tudo com a mesma alegria de outros tempos, com a mesma espontaneidade que
me selava as manifestações. Escolhi um caminho diferente. O caminho que JESUS nos
traçou. E segundo ELE próprio nos diz, através dos seus inesquecíveis ensinos,
não ter vindo ao mundo para curar os sãos, sinto-me na condição do rapaz ainda
doente que se abeira da farmácia do DIVINO MÉDICO, de maneira a curar-se em
definitivo para o Bem. Veja, Mãezinha, que seu filho está feliz. Às nossas
queridas Maria Otília, Zuleica e Marly, com os nossos estimados companheiros
Walter, Celso e Paulo, o meu abraço de fraternidade e de alegria. A cada
coração de nossa família espiritual reunidos nesta noite de bênçãos para
acréscimo de nosso contentamento, as melhores vibrações do meu pensamento
agradecido e, enlaçando o papai Raul em meus braços, procuro as suas mãos
queridas para beijá-las em meu reconhecimento. Perdoe, Mamãe, se tenho ainda
tão pouco para doar de mim mesmo, mas receba-me de novo em seu coração. Seu
filho tem frio, aquele frio com que chegou ao seu colo, necessitado de tudo.
Frio de saudade que o sol do amor faz desaparecer. Abrace-me de novo. Quem diz
que o mistério do amor entre mães e filhos terá desaparecido da Terra? Aqui
estamos nós para desmentir. Esqueço-me de tudo o que terá passado em meu
caminho para ser, nesta hora, simplesmente seu filho, seu pequenino, pedindo
proteção e recebendo imenso amor. Sou e serei sempre, com e seu carinho e por seu
carinho, o seu filho, sempre seu, Augusto”.
(Augusto Cezar Netto por Chico
Xavier)