A Miss Angola, Leila Lopes, recebe a coroa de Miss Universo da vencedora do concurso do ano passado, a mexicana Ximena Navarrete - Foto: Reuters
SÂO PAULO - A beleza negra mostrou sua força e elegeu a mulher mais bonita do mundo, Leila Lopes, Miss Angola, de 25 anos, acabou recebendo a faixa, o cetro e a coroa de Miss Universo, batendo concorrentes de 88 países que participaram da competição, em sua 60ª edição e realizada pela primeira vez no Brasil. Priscila Machado, de 25 anos, acabou ficando em terceiro lugar, sendo superada também pela Miss Ucrânia, Olesia Stefanko. O quinto lugar ficou com a Miss China, Luo Zilin, de 24 anos, e o quarto com a Miss Filipinas, Shampsey Supsup, 25.
Embora a grande final tenha sido transmitida ontem, ao vivo, pela Band - chegando a 190 emissoras e mais de um bilhão de espectadores no mundo - o concurso propriamente dito começou no dia 8, com uma competição preliminar que selecionou 15 garotas entre as 89 partipantes (a 16ª foi escolhida pelos internautas, em votação no site do Miss Universo).
Na grande noite, o desfile de biquini (todos rigorosamente iguais, exceto pela cor) serviu para eliminar mais seis garotas, sobrando 10. As cinco finalistas saíram após o desfile de roupa de gala. A última e decisiva prova foi a resposta que deram a uma pergunta formulada pelos jurados, sorteada pelas próprias concorrentes.
Ao final, a nova Miss Universo - estudante de Administração que acabou ganhando o reforço de torcedores do Panamá, Venezuela e México, as mais "barulhentas", a ponto de superar em aplausos e coro a própria brasileira - falou sobre o principal segredo para conquistar a torcida no Credicard Hall e os jurados..
- Quero agradecer aos meus amigos, porque eles sempre disseram o que eu tenho (de melhor): o meu sorriso, que consegue contagiar as pessoas. Eu uso pra poder fazer com que as pessoas queiram estar comigo, animem-se a estar comigo. Eu acho que eu consegui fazer transparecer a pessoa que eu sou, independente de estar numa competição. Consegui mostrar minha alegria e que consigo me divertir, independente da situação.
Ela disse que deve usar a visibilidade de seu título para ajudar seu país na luta contra a fome e a Aids, entre outras ações.
Uma curiosidade: Leila Lopes foi a única que levou uma "gongada" (na realidade, uma campainha) por estourar o tempo na resposta a sua pergunta: "Se pudesse mudar uma característica sua, o que trocaria? A resposta de certa forma, simples:
- Graças a Deus estou satisfeita com o jeito que Deus me fez. Menina bonita por dentro, tenho os valores adquiridos da minha família, e assim pretendo ser a vida toda...
O programa, entre as 22h e meia-noite, deu à Band pico de 11 pontos de audiência, com média de oito.
'As pessoas racistas devem procurar ajuda'
Janelle "Penny" Commissiong
Trinidad e Tobago (1977)
Miss Universo
Chelsi Smith
Estados Unidos (1995)
Miss Universo
Wendy Fitzwilliam
Trinidad e Tobago (1998)
Miss Universo
Mpule Kwelagobe
Botswana (1999)
Miss Universo
Deise Nunes Miss Brasil (1986)
6º lugar no Miss Universo
SÃO PAULO - Leila Lopes, de 25 anos, não é a primeira negra a receber a faixa de Miss Universo. A primazia coube a Janelle "Penny" Commissiong, de Trinidad e Tobago, vencedora do concurso em 1977. Depois dela vieram Chelsi Smith, dos Estados Unidos, em 1995; Wendy Fitzwilliam, também de Trinidad e Tobago, em 1998, e Mpule Kwelagobe, de Botswana, em 1999. Em 1986, a gaúcha Deise Nunes, que foi a primeira negra a se eleger Miss Brasil, ficou em sexto lugar na classificação geral. Ainda assim a estupidez humana faz com que, vez ou outra, surjam manifestações preconceituosas como a de um site brasileiro que, às vésperas da competição, e se valendo do anonimato de quem o criou, emitiu opiniões do tipo 'Como alguém consegue achar uma preta bonita?. Após receber o título, a mulher mais linda do mundo - que tem o português como língua materna e também fala fluentemente o inglês - disse o que pensa de atitudes como essa e também sobre como sua conquista pode ajudar os necessitados de Angola e de outros países.
Você, que vem de um país devastado por guerra e castigado pela pobreza, pretende usar o seu título para melhorar a vida em Angola?
Como Miss Angola já tenho feito bastante pelo meu povo. Tenho trabalhado em várias causas sociais, trabalho com crianças desfavorecidas, trabalho na luta contra o VIH-Sida (HIV-Aids), trabalho na proteção para os idosos. Tenho que fazer tudo o que meu país precisa. E, com certeza, penso que o universo inteiro precisa também da minha voz, da minha ajuda. Agora, como Miss Universo, espero poder fazer muito mais ainda.
Há oito meses você não pensava em ser miss, e agora é Miss Universo. Como vê essa mudança?
Eu sempre fui muito envergonhada. As pessoas diziam que eu tinha tudo para ser miss, mas eu dizia "Não vou conseguir, porque tenho vergonha de encarar o público". Mas quando eu fui viver na Inglaterra - lá a comunidade angolana era bem pequena ainda -, as pessoas começaram a dizer "Vais concorrer a Miss Angola, vais ganhar o Miss Angola e vais ganhar o Miss Universo". Aí eu fui acreditando. Concorri no Miss Angola Reino Unido e um amigo me disse "Se tu continuares com a mesma postura, tu vais ganhar o Miss Universo". E eu segui os conselhos dele. E agora estou aqui, sou Miss Universo 2011.
Aqui no Brasil, nós tivemos manifestações racistas mirando no Miss Universo, questionando a beleza da raça negra. O que você pensa dessas atitudes racistas no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no mundo de uma maneira geral, contra a raça negra. Você pretende encampar alguma bandeira contra o racismo?
Felizmente, o racismo não me atinge. Acho que as pessoas racistas é que devem procurar ajuda, porque não é normal em pleno século 21 as pessoas ainda pensarem dessa forma. Vejo qualquer forma de preconceito a maior injustiça do ser humano (contra outro ser humano). Devemos todos nos respeitar independentemente da raça, da idade, do sexo e do meio social.