(pt.forwallpaper.com)
“Há um comportamento comum, daqueles que
caminham no cotidiano, de substituírem as figuras significativas com as quais
nós estabelecemos uma relação emocional, afetiva ou espiritual. É uma tendência
fazermos isso como uma forma de vivermos melhor. Por isso, é importante que a gente
responda: o que você faz com aquelas pessoas que se ausentam da sua vida? Quais
outras pessoas você tenta colocar no lugar dessas que faltam? O que você faz,
quando você tem uma perda muito grande com esse buraco que essa perda
estabelece? Nós observamos no mundo que, quando um ídolo se ausenta, morre, a
humanidade tenta buscar outro para colocá-lo no mesmo lugar. É justo que nós
nos perguntemos, para que nós possamos, melhor conhecendo-nos, avaliar como é
que nós estamos lidando com perdas, com essas ausências de afetos, de uma mãe,
de um pai, de um filho, de um esposo, de um amigo, alguém que se foi pelas vias
da desencarnação e subitamente... um pai que se ausentou por uma doença
cerebral, um filho que de repente faleceu ou então um afeto muito querido que
rompeu com o relacionamento, um amigo que abandonou você... Como é que você
faz? Como é que é a sua escolha para trabalhar essas perdas monumentais, que se
estabelecem no seu mundo íntimo? Nós, ao invés de buscarmos um olhar que
pudesse nos fazer prospectar para um crescimento e para um aprendizado,
habitualmente nós incorremos num hábito que se repete no cotidiano. Ao invés de
substituirmos positivamente alguém que se ausentou, nós substituímos
infantilmente, impulsivamente, literalmente, alguém que se foi, alguém que se
ausentou e, simplesmente, criamos uma zona de sofrimento. Diante de alguém que se
vai, que se ausenta... é muito importante aprender a lidar com o luto, o luto
psicológico, o luto que vai fazer com que emocionalmente nós possamos nos
refazer, um luto que é o tempo que eu preciso para poder refazer a minha vida
com a ausência daquela figura significativa, que de repente se distanciou de
mim pelas vias naturais da desencarnação ou então pelo circuito das escolhas. É
importante fazer isso para que possamos lidar com esse vazio que se estabelece,
preenchendo-o adequadamente, para poder lidar com a frustração e podermos
superá-la sem o desequilíbrio que possa nos deixar marcas mais profundas. É
necessário que abramos esse espaço, sob pena de incorrermos numa atitude
infeliz, que é uma tentativa de substituição literal daquela pessoa que se
ausentou, de uma forma apressada, impulsiva, tentando colocar uma outra pessoa
no seu lugar, exatamente no seu lugar, como se fosse um sósia, um cover, um
homônimo, na tentativa de anestesiar a nossa dor, de preencher o buraco, de
evitar que a frustração, a decepção, nos doa tanto. Esse fenômeno de podermos
lidar desengonçadamente com essas situações de vida e buscarmos essa
substituição literal tem nos fornecido sofrimentos incontáveis. Um filho que se
foi, eu faço apressadamente um movimento de adoção inconsequente,
irrefletido... Uma criança que eu perdi no ventre, que não chegou a nascer,
segue-se logo outro filho biológico e eu lhe atribuo o mesmo nome, na tentativa
logo de cobrir aquela falta... Estas e outras formas de tentar lidar com essas
dificuldades resultam no agravamento do problema. O que fazer então? É
impossível que essas medidas possam resultar em aproveitamento e em êxito,
porque há uma confusão no que tange ao lugar que essas pessoas ocupam no nosso
coração e a função que elas desempenham no relacionamento conosco. Esse
processo é muito conflituoso, doloroso, porque Deus nos criou singularmente.
Cada pessoa é única no mundo, irrepetível. Não há fotocópia. Cada relação é
absolutamente única e singular. Logo, quando nós tentamos enquadrar o outro no
lugar que não é o dele e ele tenta se acomodar nesse lugar para nos satisfazer,
apenas estamos gestando um processo conflituoso que o tempo haverá de revelar.
É verdade que temos que preencher um vazio, superar a dor, equacionar o
sofrimento... E é verdade que podem surgir novas pessoas... Mas quem chega não
ocupa o mesmo lugar. Ocupa a mesma função, o que é um pouco diferente. O outro
é o outro. Cada filho é um filho. Essa relação mãe e filho, pai e filho... tem
que ser personalizada, ela tem que ser distinta, específica, para aquela nova
relação”.
(Médico Psicoterapeuta, Alberto Almeida)
0 comentários:
Postar um comentário