Neste 3 de dezembro o mundo celebra o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Comemora ainda o 30º aniversário do Ano Internacional das Pessoas com Deficiência, marco histórico estabelecido em 1981 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que, pouca gente lembra, também oferece aos países o suporte da United Nations Enable.
De lá para cá muita coisa mudou e a relevância do tema vem atingindo o seu auge. O que felizmente, entre outros pontos, abre portas para o desenvolvimento de estatísticas seguras, que permitam observar o tamanho do problema e propor as soluções mais viáveis. Assim, a entidade já pode estimar que 15% da população global sofram de algum tipo de deficiência.
Se somarmos os familiares e as pessoas que cuidam dos deficientes, garante a ONU, temos nada menos que ¼ da população mundial envolvida diretamente na questão. No Brasil, conforme os indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que corresponde a 23,91% da população.
As mudanças nos perfis da sociedade, ao mesmo tempo em que promoveram o progresso científico e tecnológico e ampliaram debates democráticos para incontáveis interesses, também começaram a dar novos contornos ao panorama da deficiência física. Fundada há 61 anos para tratar e reabilitar crianças afetadas pela poliomielite e pelas consequências da paralisia cerebral, a AACD (Associação de Assistência à Criança de Deficiente) hoje vê aumentar consideravelmente em seu quadro de pacientes os jovens e adultos vítimas da violência urbana, especialmente de acidentes de trânsito e de armas de fogo. Ou seja, a demanda aumenta e a AACD dedica esforços sem fim em busca da expansão da capacidade de atendimento e da gestão administrativa financeira sustentável.
E a expertise da AACD conquistada ao longo destas décadas permite sugerir à sociedade brasileira a observação de algumas lacunas decisivas. Por exemplo: existe um gargalo enorme para que profissionais em Engenharia ou Fisioterapia desenvolvam novas próteses de membros superiores (mãos e braços). As opções disponíveis no mercado e nos hospitais ou são caras demais ou têm limitações tecnológicas para o uso adequado do paciente. Por que não integrar o conhecimento das universidades e o interesse da indústria para beneficiar o Terceiro Setor?
As áreas de Mecatrônica e Biomecânica estão se desenvolvendo rapidamente no Brasil, especialmente com automatização das indústrias. Por que não aproveitar este grande momento de desenvolvimento tecnológico para pensar no Terceiro Setor, investindo mais em tecnologias de próteses e órteses para os deficientes físicos? Ao garantir e ampliar o acesso a próteses e órteses vamos impactar diretamente no aumento da força de trabalho no Brasil, oferecendo enorme contribuição à economia do País e, mais importante, à inclusão social.
O momento político para a tomada de decisões estratégicas é favorável em todas as esferas públicas. A criação de secretarias municipais e estaduais em defesa da pessoa com deficiência demonstra a crescente receptividade do setor público em alinhar iniciativas para compreender cada vez mais os benefícios e os impactos da inclusão social. O pacote Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver Sem Limite – veio com metas ambiciosas a serem cumpridas até 2014, com previsão orçamentária de R$ 7,6 bilhões.
Se de um lado vemos a evolução política na questão do deficiente, a sociedade também precisa fazer a sua parte, aceitando o deficiente físico e suas necessidades especiais. No ambiente escolar, é imperativo que o pedagogo acompanhe o seu desenvolvimento com paciência, pois o ritmo das ações tende a ser mais lento ou a criança pode requerer mais atenção para que não seja marginalizada ou menosprezada pelos colegas de classe. Escolas públicas e privadas não podem mais esperar para investir em adequações arquitetônicas, de conteúdo e de relacionamento infanto-juvenil.
Empresários e empregadores, que muitas vezes reclamam da dificuldade em encontrar mão de obra para diversas atividades em seus negócios, desconhecem o potencial de jovens e adultos reabilitados. Basta apenas vencer as barreiras do preconceito, investir na acessibilidade de suas instalações e apostar na qualificação profissional. A AACD, por exemplo, há 30 anos dispõe de um banco de talentos com cerca de cinco mil ex-pacientes cadastrados e aguardando uma oportunidade de emprego. Mas, sabemos, a baixa escolaridade também influencia na recolocação profissional. Em cerca de 80% dos casos, os ex-pacientes possuem, no máximo, Ensino Médio, sendo contratados apenas para ocuparem cargos como auxiliar de escritório e atendente de call center. Precisamos melhorar esse quadro.
Em suma, a AACD está disposta a participar integralmente deste novo momento e oferecer suas experiências à sociedade. Ao mesmo tempo, conta com total apoio social para obter recursos que nos permitam investir em profissionais, tecnologias em todas as unidades e ampliação da capacidade de atendimento. Muito tem sido feito. Vale lembrar que a AACD já consegue realizar anualmente mais de 1 milhão de atendimentos, entre cirurgias, consultas, aulas e terapias e fabricar mais de 60 mil aparelhos ortopédicos, que contribuem para a melhoria na qualidade de vida de milhares de deficientes físicos.
(publicação no site 'batecabeca')
*Eduardo de Almeida Carneiro é presidente voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente)
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