(foto do blog do Flávio Siqueira)
“A
respeito das manifestações de rua em SP, RJ e outras cidades brasileiras...
É obtusidade córnea ou má fé cínica (lembrando Machado de Assis) acreditar que
evento de tal magnitude (e crescente) seja sustentado apenas por um aumento de
20 centavos na passagem de ônibus. Para o "povão" esse dinheiro faz
falta, mas não motivaria saída às ruas. Para os jovens de classe média, menos
ainda. O fato real é que há um sentimento ainda difuso de insatisfação, temor
do futuro que criou o caldo de cultura para as manifestações ainda em curso. E
outras que começam a aparecer... Talvez fizesse bem à turma dos gabinetes
um ‘choque de realidade’ andando pelas ruas. Quem não souber ver, vai pagar
caro - nas urnas... O governo está cada vez mais refém da sua própria
base aliada, mesmo que a oposição não lhe cause maiores percalços”.
_______
Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira. Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000/02).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde". Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).
“Essa repentina explosão, mesmo a falta de lideranças e de uma ‘pauta’
clara, sinaliza que o descontentamento com o transporte público e o preço das
passagens foi apenas o estopim para algo preso, achatado, entalado na alma,
especialmente da classe média brasileira... A ostentação do índice de aprovação
dos governos servia como tapa na cara, o discurso oficial de que ‘nunca antes
na história desse país’ o povo esteve tão feliz eram solventes para qualquer
sinalização de necessidade de mudança, a percepção de que o descontentamento
era tópico, restrito à ‘mídia golpista’ ou a ‘conservadores reacionários’,
enquanto casos de corrupção se avolumavam sem grandes consequências e/ou
explicações, o endividamento, o enriquecimento dos bancos, a altíssima carga
tributária, os juros, os jogos políticos, as associações em torno do poder,
tudo, de alguma maneira, inibia um grito de insatisfação generalizada, pelo
menos em parte da população, como se não houvesse mais esperança, tudo perdido,
como se não adiantasse, como se o povo tivesse sido engolido por uma máquina
publicitária e assistencialista, corrupta, demagógica, dogmática, populista, e,
sobretudo, moedora de mentes, aspirações e ideais... Nossa democracia
retrocedeu, não havia espaço para críticas, discordâncias, oposição,
questionamentos sem que o questionador se transformasse em objeto de ataque, seja
ideológico, jurídico, ou físico em alguns casos. A porta estava fechada,
trancada e a chave tinha sido engolida. No primeiro sinal, na primeira fresta,
e a passagem de uma tímida luz (o protesto pelo preço das passagens)os que
dormiam acordaram e a correria em direção à saída foi generalizada... Os
protestos deixaram de ser do movimento passagem livre e passou a ser de um
povo, ou pelo menos parte de um povo que não aguentava mais. Por isso a
perplexidade das autoridades que argumentam ‘não há com quem negociar’, ‘quais
as pautas?’. Não é um movimento com um líder, suas bandeiras e pauta
reivindicatória. É um povo, são jovens e adultos, é gente acuada que de repente
acordou e saiu às ruas para assustar seus meticulosos e acomodados algozes. Não
é apenas uma lista a ser atendida, mas um grito a ser ouvido. Com ou sem
exageros, que suas vozes repercutam e os chamados ‘donos do poder’ sintam que
são , ou deveriam ser, representantes de um povo que de vez em quando acorda,
de vez em quando protesta, de vez em quando mostra a cara e, quando o faz,
ninguém sabe o que fazer”.
(Radialista, Flávio Siqueira)
“As manifestações traduzem, ainda, a vontade social de expandir sua locução. Há muitos gritos presos nas gargantas. Há demandas reprimidas. A metáfora é a da panela de pressão: se não houver uma válvula que permita soltar o vapor, a panela explode. As manifestações funcionam como válvula de pressão. Ao ganhar as praças, a galera vai de encontro ao respiro social. Sob outro prisma, enxerga-se na mobilização da massa um sinal de que a democracia participativa encontra espaço para se manifestar. E qual a razão ? A crise que assola a democracia representativa. Norberto Bobbio já avisara: a democracia não tem cumprido seus clássicos compromissos: o acesso à Justiça; combate ao poder invisível; educação para a cidadania; transparência dos governos, etc. As representações políticas em todas as instâncias frustram expectativas. Os políticos são execrados. Cria-se um imenso vácuo na sociedade. Que é ocupado por uma miríade de entidades. A democracia participativa - direta - surge nesse bojo, resgatando a forma original - as reivindicações do povo na Ágora, a praça central de Atenas”.
(Jornalista, Professor Doutor Gaudêncio Torquato)
“As manifestações traduzem, ainda, a vontade social de expandir sua locução. Há muitos gritos presos nas gargantas. Há demandas reprimidas. A metáfora é a da panela de pressão: se não houver uma válvula que permita soltar o vapor, a panela explode. As manifestações funcionam como válvula de pressão. Ao ganhar as praças, a galera vai de encontro ao respiro social. Sob outro prisma, enxerga-se na mobilização da massa um sinal de que a democracia participativa encontra espaço para se manifestar. E qual a razão ? A crise que assola a democracia representativa. Norberto Bobbio já avisara: a democracia não tem cumprido seus clássicos compromissos: o acesso à Justiça; combate ao poder invisível; educação para a cidadania; transparência dos governos, etc. As representações políticas em todas as instâncias frustram expectativas. Os políticos são execrados. Cria-se um imenso vácuo na sociedade. Que é ocupado por uma miríade de entidades. A democracia participativa - direta - surge nesse bojo, resgatando a forma original - as reivindicações do povo na Ágora, a praça central de Atenas”.
(Jornalista, Professor Doutor Gaudêncio Torquato)
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