“Você é aquilo que você mais valoriza na vida. Você é aquilo pelo qual está disposto a morrer.” John Dewey
Uma das fotos que me marcou na vida foi a de uma mãe palestina cobrindo com o próprio corpo o filho para protegê-lo no meio de um tiroteio.
A frase de John Dewey mostra claramente o que aquela mulher valorizava.
Há quem esteja disposto a morrer por uma causa nobre, por uma religião, por uma ideologia, pela empresa, pela profissão, mesmo que isto seja em detrimento de seus próprios filhos.
Colocar outros em primeiro lugar, a sociedade, o Estado, os outros antes da família, não é exatamente um comportamento responsável, como tantas vezes ouvimos falar.
“Não pense o que os Estados Unidos possa fazer por você, mas o que você possa fazer pelos Estados Unidos.”
Posso entender que pessoas como John Kennedy, para facilitar a sua própria vida de Presidente da República tenha dito.
Puro egoísmo político da classe dominante. Para você trabalhar para eles, e de graça.
Kennedy não estava dizendo que você deveria prestar concurso, e arrumar um emprego público e ser remunerado por ajudar os Estados Unidos.
Ele queria, como bom Democrata que era, que você trabalhasse de graça, por altruísmo, por cidadania.
Uma das armadilhas do nosso pensamento na época é que eles ainda são crianças e podem esperar, e que você acha que poderá recuperar o tempo perdido depois.
Ajude Kennedy, ajude a empresa, ajude uma ONG, e que seus filhos ficarão lá esperando, até o dia que você fizer o que você precisa fazer.
“Eu preciso devotar mais tempo para os meus filhos”, é uma frequente resolução de Ano Novo.
Mas é uma resolução para o futuro, porque você sabe que eles estarão lá para você.
Mas agora, é você que não está lá para eles.
Eu costumava cantar uma canção de ninar, que vocês vão achar um tanto mórbida, que é a famosa canção de ninar de Johann Brahms, o “Boa Noite Meu Bem”.
Ela tem uma estrofe que se repete pela canção inteira que traduzida diz:
Amanhã de manhã, se Deus quiser,
Você irá de novo acordar.
Não é uma canção que um pai deveria cantar para os seus filhos, pois os deixaria morrendo de medo
"Como é que é? Eu tenho uma pequena chance de não acordar amanhã, papai?"
Por isto, eu cantava a música no seu original alemão, idioma que eu aprendi mas nunca usei, e que as crianças não tinham noção do que significava.
Mas aquela estrofe me fazia lembrar uma cruel possibilidade da vida. Você tem seu filho por um dia, e que todo dia deve ser aproveitado. Que esta história que amanhã eu darei mais atenção é uma visão perigosa.
Você tem seu filho por um dia somente, se Deus assim o desejar. E se ele acordar amanhã, trate de aproveitar a sorte que tem.
Muitos pais perdem os seus filhos, mas os pais que menos ficam abalados com a tragédia são os pais que curtiram e se divertiram à beça enquanto eles estavam vivos.
Se você for um dos que deixou para o ano que vem, o sentimento de perda lhe será extremamente pesado.
Saber que ele se foi, mas que se divertiu à beça com você lhe dará mais conforto e não mais tristeza como se poderia imaginar.
Aliás, a verdade nua e crua é que seus filhos um dia irão morrer.
O que no fundo a gente torce é que isto ocorra depois de nossa morte.
Portanto, não é a morte deles que é trágica, trágico é se a vida deles não foi divertida quanto poderia.
Obviamente, não quero exagerar nesta questão, normalmente a gente não pensa neste assunto, mas a canção de ninar de Brahms foi importante ao sempre me lembrar, toda noite, que precisamos curtir os nossos filhos, que eles vêm em primeiro lugar.
Se você não cavar espaço para curti-los, o peso das responsabilidades poderá ser maior que os pequenos prazeres que você se concede.
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