Em 9 de agosto comemoramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Portanto, o WRM quer expressar seu total apoio aos numerosos povos indígenas que lutam corajosamente pelo reconhecimento de seus direitos no mundo inteiro.
Especialmente queremos focalizar-nos no direito daqueles povos indígenas que têm optado por viver em isolamento voluntário. Em um mundo caracterizado pela informação, há assuntos que têm sido invisibilizados de tal maneira, que a grande maioria das pessoas desconhece sua existência. É o caso desses povos que habitam as florestas da América do Sul, da África e da Ásia. São poucas as pessoas que estão a par de que alguns desses povos ainda não foram contatados pela sociedade predominante e que em outros casos resistem à integração apesar – ou em decorrência - de terem sido contatados em algum momento de sua história.
A própria existência desses povos está seriamente ameaçada pelo avanço destrutivo do "desenvolvimento". As rodovias que se introduzem na floresta para extrair madeira, petróleo, minerais ou para promover a colonização agrícola e pecuária, podem ser catalogadas como as rodovias da morte para esses povos. Elas transportam não só doenças desconhecidas para as quais seus corpos não estão preparados, mas também a destruição da floresta que é a fornecedora do sustento, a poluição das águas que usam para beber, tomar banho e pescar, os enfrentamentos com quem pretende apropriar-se de seu território, a morte de suas culturas milenares.
É importante enfatizar que esses povos nunca foram perguntados se queriam ser brasileiros, ou equatorianos, ou peruanos, ou congoleses ou camaroneses ou indonésios ou malaios. Simplesmente cada governo (colonial ou nacional) desenhou um mapa e determinou que todos os territórios incluídos dentro de suas fronteiras "pertenciam" ao país ou colônia correspondente. Não importou que esses povos estivessem vivendo nesses territórios antes da própria criação dos estados nacionais ou da colonização estrangeira. Eles foram "nacionalizados" de fato.
Esses povos se encontram em total inferioridade de condições para resistirem o avanço avassalador da sociedade predominante. É por isso que todos os que acreditamos na justiça temos a obrigação de oferecer-lhes, de múltiplas formas, o apoio que necessitam –embora não seja pedido- para defender seus direitos e para deter o genocídio silencioso e invisível ao que estão expostos.
Nesse sentido, a primeira providência que podemos tomar é informar o mundo a respeito de sua existência, como passo inicial a caminho de um objetivo de somar vontades para a defesa de seu direito a viver em seus territórios da forma que eles determinarem, incluído o direito a não integrar-se a uma sociedade à que não desejam pertencer.
Junto a isso, devemos fazer tudo o que for possível para proteger seus territórios de invasões externas vinculadas a atividades tais como a atividade madeireira, a mineração, a exploração petroleira e a colonização. Quer dizer, em primeiro lugar, conseguir o reconhecimento legal de seus direitos por parte do Governo e o estrito cumprimento das disposições legais perante possíveis invasões não autorizadas. E além disso fazer com que o Estado exclua explicitamente esses territórios de seus programas de desenvolvimento.
Na realidade, não deveria chamar nossa atenção que houvesse povos que não queiram ser integrados a uma sociedade como a que temos atualmente, que empurra milhões à pobreza e à fome e que destrói tudo o que toca (clima, florestas, pradarias, zonas úmidas, solos, ar). Estes povos não são pobres nem ignorantes. São diferentes e estão mostrando uma enorme sabedoria ao querer manter seu isolamento. Vamos ajudá-los a viver de seu próprio jeito até o dia em que decidam por sua própria vontade, –se isso acontecer, integrar-se à sociedade predominante.
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